O texto abaixo é muito instrutivo, sobre
a História do Tarot,
brilhantemente escrito por Nei Naiff.
Embora acredito desnecessária a crítica exacerbada
sobre o machismo que todos sabemos que existia
naquela época.
Além de, não posso deixar de mencionar
algumas afirmações anti-filosóficas,
Porém, contudo é um texto espetacular.
E reproduzo aqui para o deleite de todos nós.
Tudo começou com o livro Tarô dos
Boêmios (Paris, 1889) que seguramente é o primeiro na história do Tarot a
abordar os arcanos, tanto sob a ótica da metafísica cabalística quanto dos
jogos adivinhatórios numa única obra, pois os outros autores de sua época ou se
reportavam a um ou a outro.
O livro em questão foi escrito pelo médico espanhol, radicado na França, Gérard Anaclet Vincent Encausse (1865-1917), conhecido como Papus. Encontrei, com suas próprias palavras, toda sua vaidade e arrogância espiritual explicitada nas páginas 273/275 (??? Não há nada sobre isso nessas páginas) e depois no final da 309 da edição brasileira (??? Não há nada sobre isso nessas páginas).
Resumindo o conteúdo: Papus dizia que as mulheres eram todas burras o suficiente para não entenderem sua obra cheia de números, letras hebraicas e deduções abstratas, que pertenciam aos homens da ciência, mas como era tradição delas jogarem cartas, ele escreveria algumas páginas para não se aborrecerem; esclarece às ignorantes leitoras que o homem tem a razão e a mulher a intuição. Pensei - Homens não jogavam cartas!? Por que ele exultou a cabala e desdenhou a cartomancia? (De fato há alguma coisa sobre isso. Já li. Mas acredito que é no livro “A Cabala”)
Tal fato foi uma luz no fim do túnel para começar o que desejava: entender um pouco do passado do Tarot. Como um detetive segui os passos de Papus para entender seu chovenismo; observei a bibliografia do Tarot dos Boêmios e percebi que de consistente e lógico sobre o estudo das cartas de Tarot, ele citava os autores de sua época até, no máximo, um século antes, precisamente, até 1775 sobre as idéias de Antoine Court de Gebelin. Comecei a ler algumas obras possíveis: Etteila (1787), Claude de Saint Martin (1790), Saint Yves d'Alveydre (1830), J.A.Vaillant (1850), Eliphas Lévi (1854), Estanislau Guaita (1886), Mac Gregor Mathers (1888), Piobb (1890), mas não cheguei a lugar nenhum porque observei que todos citavam uns aos outros e todos tinham como ponto de apoio Gebelin e Lévi. Até ai nenhuma novidade, pois todos os estudantes de Tarot já ouviram falar que eles escreveram uma vasta literatura sobre as origens do Tarot. Bem, então o melhor era começar pelo mais antigo.
Ao pesquisar Antoine Court de Gebelin (1725-1784) fiquei
estarrecido com a descoberta que foi negligenciada, não sei se proposital, por
ingenuidade ou falta de maiores informações dos ditos mestres ocultistas do
século 19. Gebelin era filho do
famoso pastor evangélico francês Antonie Court (1695-1760) que restaurou
a Igreja reformada na França, fundou um importante seminário para a formação de
pastores evangélicos, sendo um grande historiador de sua época. Gebelin seguiu os passos do pai,
tornando-se um pastor e mais tarde, também influenciado pelo pai, interessou-se
por mitologia, história e lingüística. Embora alguns livros o citem como
ocultista, talvez, devido a sua obra sobre o Tarot, em sua biografia não
encontrei qualquer referência a este respeito; em todo caso é mister esclarecer
que ele não teve uma vida dedicada ao esoterismo. Tinha uma obsessão junto com
o pai: descobrirem a língua primeva que dera origem a todas as outras e/ou
explicaria as várias mitologias conhecidas; também acreditavam que esta língua
seriam símbolos, talvez os hieróglifos egípcios.
Certo dia, como ele mesmo diz em sua obra (Le Mond Primitif...),
inclusive citado no Tarot do Boêmios, página 231 (Nossa! Acho que não temos o mesmo
livro) , foi convidado a
conhecer um jogo de cartas que desconhecia e em menos de quinze minutos
declarou ser um livro egípcio salvo das chamas, explicando, imediatamente, aos
presentes, todas as alegorias das cartas.
Escreveu, em sua obra, uma retórica do Tarot como sendo a chave dos símbolos da língua primeva e da mitologia; fez uma relação dos arcanos com as letras egípcias e hebraicas e, revelou que a tradução egípcia da palavra "tarot" é "tar" = caminho, estrada e "ot" = rei, real. Para tornar suas teorias pessoais mais contundentes, lançou mão de seu conhecimento em história, abordando a trajetória do Tarot (Tarot dos Boêmios, página 229 e 233), disse que ninguém antes dele desconfiou de sua ilustre origem porque as imagens eram muito comuns e por isso nenhum cientista dignou-se a estudá-las; também revelou que durante os primeiros séculos da Igreja, os egípcios, que estavam muito próximos dos romanos (Era Copta, conversão absoluta do Egito ao Cristianismo - 313 a 631 d.C.), ensinaram-lhes o culto de Ísis e os jogos de cartas de seu cerimonial; assim, o jogo de Tarot ficou limitado à Itália e Alemanha (Santo Império Romano); posteriormente, chegou ao sul da França (Provença, Avignon, Marselha) e, ainda desconhecido, no norte (Paris, Lion).
A primeira vez que li sobre essa história, não atentei ao fato de que numa simples olhadela Gebelin descobre ser o Tarot um livro egípcio, que fora ensinado aos romanos pelos próprios egípcios e que ninguém antes dele sabia a respeito - se aceitarmos esta tese como verdadeira, como é possível os romanos (católicos) aprenderem uma devoção (culto de Ísis) considerada pagã aos moldes da época, passando de geração a geração durante mais de 1.500 anos (de 313 a 1775), incólume pela própria Santa Inquisição (1230/1834), sendo disseminada nas regiões que ele cita e absolutamente ninguém escreve ou fala nada a respeito de sua origem egípcia? Então, onde estaria a tradição egípcia do Tarot tão exultada pelos seus conterrâneos posteriores? No período por ele citado, a Itália teve renomados ocultistas, alquimistas, astrólogos, magistas, historiadores, filósofos, arqueólogos, enciclopedistas, todos formadores de opinião e de grande saber - o hermetismo, a gnose e a cabala eram amplamente disseminados -, e Gebelin chama-os de incapazes de observar o que ele, em sua enorme sapiência evangélica, descobriu literalmente em quinze minutos! Observe que Gebelin NÃO descobriu tal fato (a origem egípcia do Tarot) em algum livro perdido no tempo, em algum documento antigo, em alguma ordem esotérica ou revelado por alguma entidade espiritual! Então, tudo o que falamos a respeito da origem egípcia do Tarot surgiu numa simples visita a uma cartomante, numa tarde de sábado, que nem ela e nem a Europa sabiam nada a respeito? Eu me questionava.
Gebelin ficou rico e famoso com suas obras
e, a partir de então, o Tarot se tornou uma febre parisiense, todos queriam
aprender o jogo egípcio; os ciganos que eram considerados, na época, de origem
egípcia, embarcaram na onda e começaram a ler cartas! Ele publicou um Tarot
junto com sua obra, mas não se tem notícias de que tenha jogado ou ensinado,
pois não se preocupou com jogos ou métodos em seu livro, somente com o Tarot
enquanto revelação da escrita egípcia e com os símbolos das cartas como sendo a
chave da mitologia. Bem, Gebelin sempre
fora uma pessoa respeitada muito antes de falar sobre as origens do Tarot, era
filho de um famoso pastor evangélico, historiador reconhecido e amigo pessoal
de Benjamim Franklin. Com certeza merecia créditos; eu daria, se vivesse
naquela época. Tenho que esclarecer mais um fato: Gebelin não escreveu Le Mond Primitif... para o ocultismo,
foi em função de sua vaidade em buscar a mesma fama de seu pai que toda a sua
obra é voltada em esclarecer a mitologia egípcia e romana e não propriamente o
Tarot; embora os ocultistas o citem como tal depois de sua morte, ele era acima
de tudo um evangélico! Suas obras e idéias percorreram o mundo da ciência,
todos os arqueólogos queriam falar com ele, pois era uma febre francesa
descobrir as chaves dos hieróglifos egípcios. Nenhum ocultista esteve com ele
ou o citou em alguma obra até alguns anos após sua morte; somente uma pessoa
que se tem notícia o procurou em vida para conversar sobre a origem egípcia e
fins adivinhatórios: o francês Etteila (anagrama de seu verdadeiro nome Aliette). (Bem,
desnecessário dizer, que nosso amigo Nei Naiff, é anti-filosófico, na medida em
que afirma que não isso ou sim aquilo. Deveria ler e pensar “Será?”, mas jamais
afirmar o que leu.)
Não encontrei muitas referências sobre a vida de Etteila, nome
completo ou datas pessoais, além do que está exposto nas obras dos ocultistas
do século 19; diziam que ele era um peruqueiro da corte francesa, professor de
álgebra, amigo íntimo de Mlle Lenormand (famosa cartomante de Napoleão)
e de Julia Orsini (outra famosa
cartomante francesa) - não se tem notícias de que tivesse pertencido a alguma
ordem ou fraternidade oculta; em todas as suas referências é tido como
charlatão. Lévi e Papus revelam que ele se apropriou para
benefício próprio das idéias da origem egípcia, da relação das letras hebraicas
e egípcias feitas por Gebelin, criando seu próprio Tarot corrigido,
compilando as obras de suas amigas, escrevendo onze livros. Instalou-se num dos
mais luxuosos hotéis de Paris, Hotel de Crillon, e começou a atender e ensinar
a nata parisiense! Voilá, cherry! Gebelin e Etteila devem ter
falecido ricos e felizes; um sob a visão da fama científica e o outro do
misticismo.
Vamos sair do contexto ocultista e voltar aos historiadores e arqueólogos que devem ter acreditado na figura respeitada, aos olhos parisienses, de Antoine Court de Gebelin, até que Jean-François Champollion (1790-1832) decifrasse os hieróglifos através da Pedra de Roseta. Champollion publicou em 1822 a relação legítima do alfabeto egípcio e seus fonemas; este trabalho lhe rendeu o disputado cargo de curador do departamento egípcio do Museu do Louvre, em Paris, em 1826. Após sua morte, foi publicado, em 1835, seu mais precioso trabalho onde revela toda a gramática e literatura egípcia jamais revelada em toda a história desde o seu desaparecimento na Era Copta. Descobre-se que tudo o que Gebelin escrevera a respeito do Tarot como língua primeva e codificação dos hieróglifos egípcios estava errado, em nada se sustentava perante as verdadeiras revelações da história do Egito - não existe a palavra tarot na língua egípcia, muito menos o que supostamente Gebelin disse ter traduzido; também, tudo o que ele decifrara de alguns hieróglifos estava absolutamente errado - esta é a parte negligenciada pelos ocultistas, bem como a forma inconsistente da revelação de que precisou de quinze minutos para descobrir a própria origem das cartas de Tarot - Porque? Eu me perguntava frequentemente. (O que importa o que disseram ou não desse ou daquele autor. Nunca saberemos. Se foi perseguição ou fato. Repito, não deveria fazer afirmações.)
As respostas começaram a surgir quando reli as obras de Eliphas Lévi (1810-1875), pseudônimo de Alphonse Louis Constant, tido como padre
por se instalar por algum tempo na ordem franciscana, em Paris, para ter acesso
à vasta biblioteca sobre a cabala cristã, mas não era um padre oficializado na
Igreja Católica Apostólica Romana, como se pressupõe - a roupa faz o monge, já
diz o ditado popular. Um fato incontestável foi que Gebelin e Etteila mexeram
com o imaginário popular e, consequentemente, dos esotéricos, pois fica muito
claro nas obras de todos os ocultistas do final do século 18 e início do 19 que
no âmbito tradicional do universo das ciências ocultas nunca se analisou ou
questionou o Tarot - são palavras do próprio Gebelin e de todos posteriores a ele, sem exceção; este é sem
dúvida um dos dados mais importantes a serem analisados no que tange à tão
exultada expressão "tradição do Tarot", pois tradição não é algo que
se extingue e depois reaparece.
IHVH
Lévi, em seu primeiro livro (1854), Dogma e Ritual da
Alta Magia, páginas 405 a 421, e no segundo, História
da Magia, páginas 76 (Não
contestou – Diz assim: ...dizemos nós, é
o famoso livro de Thot, que Court de Gébelin suspeitou ser conservado até hoje
sob a forma deste jogo de cartas que se chama Taro...) e 242 (Não constatou. Simplesmente fala de um
antigo Papa) a 252 (não
constatou. Fala de “Lenda e história de
Raimundo Lullo”), execra as obras e a conduta de Etteila
(Entre
outras, pág 346), contesta a origem egípcia de Gebelin
e repudia a palavra tar=caminho e ot=real. Vai mais além, introduz o
conceito de que Moisés escondeu nos símbolos do Tarot a verdadeira cabala e
depois ensinou aos egípcios o jogo de carta; também, pela primeira vez, um
ocultista, em toda a história da magia, faz uma acalentada tese de associações
das letras hebraicas com os arcanos e diz que a palavra tarot é análoga a
palavra sagrada IHVH ( h w h y ), sendo também uma variação das
palavras Rota / Ot-tara / Hathor / Ator / Tora / Astaroth / Tika. Assim como no
livro de Papus, numa segunda leitura,
também encontrei críticas às mulheres na obra de Lévi, um pouco mais cruéis eu
diria (não há nada de cruel
nas palavras de Levi. É uma crítica normal)- desdenha Mlle Lenormand chamando-a de gorda, feia, ininteligível e louca (gorda, feia, ininteligível???), e duas outras cartomantes, Madame Bouche e Krudener, de prostitutas (coquetes ou Salomé à época) - História da
Magia, paginas 346 e 347. Reparei que tanto Lévi
quanto Papus condenavam as práticas
femininas de cartomancia, achavam que elas usurpavam o poder do homem na
ciência oculta... Indagava-me, por quê?
Bem, encontrei duas passagens em seu livro História da Magia, páginas 78
e 251, e uma no Dogma e Ritual da
Alta Magia, página 420, que me deixaram muito
intrigado; pareceu-me que ele sabia da verdade sobre o passado do Tarot, mas
não sei se foi por ingenuidade ou se proposital, preferiu não dar importância.
Primeiro, ele diz que o Tarot mais antigo que se conhece é o Tarot
de Gringonneur (1392) e que a Biblioteca Imperial tem uma vasta coleção
de todas as épocas; segundo, ele contesta a origem dos ciganos revelada na obra
de J.A.Vaillant - Les Rômes, historie
vraie des vrais Bohémiens, 1853 (não
contesta. Apenas cita uma possível origem nos gnóstico indianos...); a mesma obra que Papus faria sua apologia do Tarot mais
tarde; Vaillant diz que os ciganos
eram egípcios e entraram na Europa no início do século 15, chegando à Paris em
agosto de 1427; e Levi diz que ele
estava errado pois os ciganos são originários da Índia, fato revelado
historicamente à época. Temos três verdades absolutas (???): os ciganos são indianos, entraram
no início do século 15, depois do surgimento do Tarot no fim do século 14.
Surgem minhas questões: por que Lévi não questionou o porquê de tanto tempo sem
que nenhum renomado ocultista falasse a respeito, visto que as cartas eram
amplamente conhecidas? Por que Papus
insistiu na idéia de que os ciganos eram egípcios, se já era de conhecimento
publico sua origem indiana? Por que todos sustentaram a história egípcia de
Gebelin, tanto na tradução da palavra Tarot quanto em sua origem, visto que,
com a descoberta de Champollion, nada
se descobriu em pergaminhos e papiros que as amparassem?
Antes de continuar é importante
salientar que TODOS os conceitos que Lévi descreve sobre o Tarot NÃO são dele,
pois Gebelin já havia feito a equiparação das letras hebraicas e o ocultista
Claude de Saint Martin (1743-1803) publicou em 1792, na obra Table Natural du Rapports..., o restante que Lévi descreve
para o Tarot; se você tiver paciência irá reparar em todos os escritos de Lévi que Saint Martin é constantemente citado. Outro dado impressionante,
que também não havia percebido na primeira vez, é que absolutamente tudo o que Lévi e Papus escrevem sobre a cabala e os sistemas ritualísticos, podem
ser encontrados nos seguintes livros da mesma época: Magus de Frances Barret (1801), A
língua hebraica restituída de Fabre
D`Olivet (1825) e A ciência
cabalística de Lenan (1825). Vamos observar que da mesma forma que Gebelin, Lévi não se baseou em nenhum
escrito antigo, lenda ou fraternidade oculta para estabelecer sua relação entre
a cabala e o Tarot, foi a partir das idéias do próprio Gebelin e Saint Martin.
Portanto, assim como Gebelin inventou
a história egípcia, Lévi inventou a
história hebraica, pois não há registros de nenhum ocultista - cabalista,
magista, alquimista, gnóstico, hermetista - fraternidade ou ordem mística que
tenha comentado, escrito ou usado o Tarot antes das obras deles. (Como não?) Para se entender o passado do Tarot
ou o que escreveram sobre ele é mister observar os dados históricos; a crença e
o misticismo pessoal, neste caso, somente levará à equívocos e discussões
inúteis.
Eliphas Levi
Contudo, verdade seja dita sobre as obras de Éliphas Lévi com relação aos textos de magia, cabala e filosofia:
são perfeitos e maravilhosos; o que estou manifestando é a relação histórica do
Tarot e a forma que entrou no ocultismo. A esta altura já tinha uma noção bem
razoável que nem Gebelin e nem Lévi possuíam, ou seja, nada que
sustentasse de forma verossímil o passado do Tarot como encontramos nas outras
ciências: alquimia, hermetismo, astrologia, numerologia, I ching, magia,
cabala. Está absolutamente claro o círculo vicioso de informações, um
compilando do outro; talvez eles estivessem disputando quem seria o "pai
da criança". Mas tudo tem seu lado positivo, o interesse dos ocultistas
pelo Tarot cresceu e, cada um ao seu modo contribuiu para a exploração
inesgotável dos arcanos. Tudo é válido no âmbito de sua exploração simbólica,
mas a consciência de seu surgimento é um passo importante para o seu futuro.
Eliphas Levi, por ter uma linguagem metafísica muito eloqüente e por sua dissertação dos conceitos
cabalísticos em associação ao Tarot, chamou a atenção dos ocultistas ingleses,
principalmente, Mac Gregor Mathers
(1854-1918). Mac Gregor adota o sistema cabalístico de Lévi, mas faz correções
segundo seu entendimento pessoal para aplicar, pela primeira vez na história da
magia, o Tarot como forma de meditação e monografia para atingir os degraus de
uma ordem esotérica: a Golden Dawn, 1888; esta fraternidade mudaria por
completo a visão do Tarot no mundo através de seus dissidentes no início do
século 20 - Arthur Waite, Carl Zain, Israel Regardie, Aliester
Crowley. No mesmo ano da fundação dessa ordem, ele lança um livro, The Tarot, its occult signification, com
base no trabalho de Lévi, Guaita,
Etteila, Gebelin, acrescentando correções que achou necessárias sobre a
relação da cabala com o Tarot.
Papus
Voltemos a Papus - depois de estudar
os autores citados até o momento, reli o Tarot dos Boêmios (já era a quinta
vez!) e finalmente descobri que o livro é uma fonte arqueológica do Tarot! Tudo
está absolutamente lá, só não vê quem não quer! Em cada título de seu livro há
subtítulos se referindo a todos os demais. Dentre as obras de Tarot que ele
possuía em sua biblioteca, Gebelin era o
autor mais antigo e Mac Gregor o mais atual em sua época! Então, vamos
observar a principal cadeia viciosa sobre as origens do Tarot: Gebelin (1775) - Etteila (1783) - Saint Martin
(1792) - Vaillant (1853) - Lévi (1854) - Christian (1854) - d´Alveydre
(1884) - Guaita (1886) - Mathers (1888) - Barlet (1889) - Papus
(1889) e ponto final! Um se baseou no outro, cada qual colocou sua teoria, fez
suas próprias correções e ninguém questionou nada - ingenuidade, manipulação,
arrogância, vaidade, eloquência? Não saberia responder. A verdade dói, em mim
também doeu. Eles tatearam no escuro para falarem sobre o Tarot; uma realidade
bem cruel é que eles não sabiam absolutamente nada sobre o Tarot e suas
origens, mas uma coisa eu achei interessante: por mais que fizessem a retórica
cabalística e a verborréia para provar seus pontos de vistas, as explicações
práticas sobre os jogos do Tarot terminavam nas cartilhas de Etteila e das
cartomantes. Por que? Eu continuava a me indagar. Sinceramente, independente
das falhas históricas grotescas que estou questionando em suas obras, eu os
indicaria como os patronos do Tarot - Gebelin, Etteila, Lévi, Mac Gregor e
Papus; foi graças a estes cinco personagens que o Tarot é o que é atualmente.
A esta altura, sentia-me como um órfão, abandonado de pai e mãe! Eu
estava quase jogando para o alto minhas convicções de que o Tarot era sagrado,
intocável pelo tempo, guardado a sete chaves por homens eruditos e que escondia
toda ciência antiga; mas eu podia estar errado, eu queria acreditar em seu
aspecto intocável pela profanidade! A forma como chegou a pseudo história
egípcia, cigana ou hebraica do Tarot aos nossos ouvidos eu já havia descoberto:
a idéia de Antonie Court de Gebelin
foi ampliada por Etteila, Lévi e Mac
Gregor; Papus fez uma amalgama de
todos; chegou ao século 20 através das mãos dos dissidentes da Golden Dawn, que
mantiveram as mesmas histórias, também acrescentando outras, todos corrigindo
as imagens do Tarot, todos querendo os louros da vitória, e assim por diante...
Mas e antes? Estaria, o Tarot, numa arca sagrada aos pés dos guardiões da
verdade? Sendo escondido, noite após noite, do famigerado Santo Ofício?...
A
meu ver, o Tarot, como qualquer outro oráculo, fazem um ponte entre nós e nosso
inconsciente. Não faz a menor importância de onde veio, quando veio... Cada um
de nós têm uma intuição particular. Acredito que o baralho de Marselha, por
exemplo, foi criado a partir da Idade Média, mas de forma alguma estou
excluindo os baralhos mais antigos. Repare como haviam “arcanos” no mundo todo.
Sem falar que há desenhados Arcanos do Tarot egípcio dentro das pirâmides. Que,
segundo li a respeito, eram usados para a Iniciação, e, onde vinham pessoas do
mundo todo para se iniciarem. E nem sempre conseguiam.
Enfim,
a antiguidade do Taro está tão visível, na medida em que jamais foi encontrada
qualquer informação a respeito. Naturalmente deve ter sido documentada, porém,
deve ter se perdido, devido a sua antiguidade.
Durante anos bisbilhotei várias obras, referências históricas, museus,
bibliotecas - tudo está detalhado em meu livro -, fiz uma mapa do tempo de tudo
o que havia sobre o Tarot. Confesso que ri muito quando comecei a ver os
verdadeiros fatos. É uma pena o século 19 ter sido desprovido do telefone, fax,
computador, e-mail, internet, avião, pois não estaríamos dois séculos atrasados
nos estudos do Tarot, inventando histórias e distorcendo a potencialidade do
uso dos arcanos! Os dados históricos destronam qualquer
idéia mais romântica a respeito do Tarot, mas em nada invalidam seu potencial;
para continuar este manifesto do futuro do Tarot, vamos separar o que é o Tarot
do que querem que o Tarot seja!
Minhas convicções sobre a "tradição" do Tarot começaram a ruir
quando eu descobri que entre 1583 e 1811 na Espanha, e entre 1769 e 1832 em
Portugal, houve estatais na produção de cartas de Tarot, produziam em média
250.000 pacotes por mês para consumo interno e envio para suas colônias ao
redor do mundo! Para jogar adivinhação com o Tarot!? Não, para jogos lúdicos!
Sim, o Tarot é usado até os dias atuais na Europa como uma jogatina,
principalmente, na França, onde há campeonatos anuais; eu mesmo, já tive a
oportunidade de observar um em 1998, em Avignon. O ofício de artesão de Tarot
era uma profissão (!) em toda a Europa desde 1455 até o fim do século 19! As
cartas pintadas à mão (valiosíssimas) constavam do espólio de famílias nobres,
com clérigos! O Tarot teve altas tributações ficais em todos os países desde o
século 16 até o início do século 20 - uma particularidade que achei fantástica
(para acabar de vez com meu misticismo com o Tarot) foi que em 1751, o rei da
França, Luiz XV, ordenou que todas as taxas provenientes do Tarot de todo
território fosse para o fundo monetário da Academia Militar! E mais: os
primeiros registros oficiais de cartomancia datam por volta de 1540 !!!!!
Operários da
fabrica de Tarot
Pintura das Cartas
do Tarot, em linha de produção
- Meu Deus!... Onde estava a Santa Inquisição que todos dizem ter perseguido
o Tarot? Dormindo? O arcano 15, O Diabo, que possivelmente condenaria o Tarot
aos olhos da Igreja, sempre esteve presente em todas as mesas da Europa, desde
as primeiras cartas que se tem notícia no final do século 14 até os dias
atuais! Como as cartomantes passaram incólumes pela fogueira? Por que Gebelin disse desconhecer as cartas de
Tarot se havia alta produção de cartas em Paris e por toda Europa? Por que
nenhum ocultista renomado da Europa anterior a Gebelin nunca prestou atenção na cartomancia ou nos símbolos das
cartas? Por que??? Por que o Tarot não fazia parte do círculo ocultista?
Por fim soube que o Tarot não se chamava Tarot e nem as cartas se
chamavam de arcanos. Onde está a tão
exultada tradição milenar dita por Lévi
e Papus sobre o nome
"Tarot"?
(Já passou pela sua cabeça, que pode se tratar de conhecimentos ESOtéricos?) Foi a última coisa que me lembro
perguntar sobre o passado do Tarot, antes de aterrissar meus pés no chão e ver
que o Tarot ainda é um bebê se comparado à astrologia, numerologia, cabala, sem
nenhum passado extraordinário... Os primeiros registros datam por volta de
1370/90, o
que denominamos de Tarot era chamado de Ludus Cartarum (cartas lúdicas) ou
Naibis; depois, por volta de 1440/1500,
passou a se chamar Trunfos (mais
usual à epoca), Tarocco ou Tarochino; por volta de 1550/1600 de
Trunfos do Tarocco na Itália e Trunfos do Tarot na França, também outras
variações chamadas de Minchiatte ou
Florentino; somente por volta de 1850/1900 surge
o termo Arcano do Tarot; e no século 20 cada país passa a nacionalizar a
palavra: Tarocco (Itália); Taroc (países germânicos); Tarok (leste europeu); Tarot (língua portuguesa) e Tarot (na maioria dos países). Observe
os espaços de datas, não são meses, são em média de um século. Imagine seu eu
lhe dissesse que você iria casar daqui a cem anos? Sim, esse é o tempo de uma
nominação para outra! Uma média de um século! Cadê a tradição? Onde está a base
histórica de Gebelin e de todos os
outros que o seguiram? A palavra "tarot" surge na França por volta de
1590/95 nos estatutos da Associação de Fabricantes de Cartas Parisienses!
As descobertas subsequentes não me aborreceram mais, muito pelo
contrário: comecei a vibrar por ter certeza de que absolutamente ninguém sabe
nada além do que está escrito (de certo ou errado) nos livros! Não tive nenhum
trauma quando procurei referências dos grandes ocultistas renomados, formadores
de opiniões, cátedras das ciências ocultas, e não encontrei nada que tivessem
dito sobre o Tarot ou algo que se assemelhasse a ele. Para dizer a verdade,
encontrei somente um único ocultista sem grande expressão que fez uma
referência aos quatro elementos em relação ao Tarot - Guilleume de Postel
(1510-1581) -, mas ninguém deu ouvidos a sua teoria até Lévi e Papus fazerem sua
apologia do passado longínquo do Tarot e citá-lo como destaque. Em 400 anos de
existência do Tarot, desde os primeiros registros oficiais até a história
egípcia de Gebelin (~1370/~1770),
somente uma única pessoa fez referências esotéricas!? Este fato corrobora ainda
mais o desinteresse pela classe ocultista dos séculos 14 ao 18 pelo Tarot e sua
cartomancia.
Porém, encontrei algo surpreendente fora dos círculos esotéricos sobre
as cartas do Tarot: crônicas questionando o que seriam aquelas imagens
enigmáticas, poesias líricas, óperas, romances, murais, quadros, uma vasta
expressão artística a partir do século 15; assim, as cartas do Tarot estavam
inseridas no contexto social, sendo conhecidas por todos! Repito: um fato muito
curioso é que as cartilhas sobre a taromancia começaram a surgir por volta de
1530-50 e o Tarot começou a ser visto também como algo para predizer a sorte e
o futuro. Por que nenhum renomado ocultista sequer comentou sobre isso - Basílio
Valentin (1398-1450), Picco della Mirandola (1463-1494), Paracelso
(1493-1541), Cornelius Agrippa (1486-1535), John Dee (1527-1608) -,
principalmente, Robert Fludd (1574-1637) e Jacob Boehme (1575-1624) que
resumiram todos os oráculos de sua época? (Imagino
eu, que não ligavam para o aspecto adivinhatório dos Arcanos, exceto Papus) Os aspectos de jogos lúdicos e
adivinhatórios andaram lado a lado e, estes, paralelos com a astrologia,
numerologia, cabala, mitologia, hermetismo, alquimia, magia até se juntarem nas
obras de Gebelin, Levi. Mac Gregor e
Papus. Outro dado curioso que percebi: somente mulheres jogavam o Tarot
(ditas cartomantes)!... Comecei a pensar sobre a sociedade até o final do século
19 - era patriarcal e misógina! (Penso
que o aspecto divinatório somente serviam as mulheres, enquanto o iniciático estava reservado
para homens) Será que houve uma descrença no
sistema de cartas por causa do contexto feminino? Ou será que pelo fato do
Tarot expressar símbolos comuns de sua época não teria nenhum valor ocultista?
Neste caso, eu acredito que foram ambos os fatores!
Lembram como comecei minha pesquisa que durou dez anos (1987/97)? Sim,
voltemos ao cavalo de Tróia: Gebelin,
Lévi e Papus; eles me forneceram as peças de todo o quebra-cabeça. A partir
da bizarra
(Nem tanto) história egípcia sobre o Tarot
criada por Gebelin, os ocultistas
viram uma possibilidade de abarcarem as técnicas de cartomancia, sem caírem no
ridículo de usarem "uma arte
feminina nos vôos da imaginação", como disse Papus, ou usaram a arte das "loucas e coquetes", segundo Lévi. Como? Fizeram uma retórica
metafísica impossível delas compreenderem - se reparar na história do
ocultismo, da magia, da cabala e da alquimia observará que não há uma única
mulher (eram todas consideradas bruxas, ignorantes e maldosas!) que anteceda a Helena
Blavatsky (1831-1891)! Ela foi muito "macho" em peitar todos
os ocultistas eruditos. Assim, não foi difícil começarem a estudar uma arte
feminina, que estava ao lado de todos eles por tantos séculos, mas que nunca
ousaram tocar por puro preconceito machista. Os homens (ocultistas eruditos ou
não) sempre tiveram a mulher como burra e incapaz, um ser inferior; como eles
iriam admitir que o poder feminino descobriria uma arte oracular que somente
pertenciam às sábias mentes masculinas? (É
isso aí. Era assim que pensavam. Ocorre que há milênios atrás, as mulheres eram
consideradas “deusas”, porque procriavam, até o homem descobrir como que isso
acontecia. Daí as mulheres, desde então, foram colocadas em segundo plano.
Quanta tolice!)
Afinal, nada melhor do que a imaginação e a intuição feminina para
descobrir o significado simbólico das cartas ao invés da razão e da lógica dos
eruditos que necessitavam de fórmulas complicadas para tudo. Para mim ficou muito
claro porque da ausência de estudo (de
estudo NÃO, jamais deixariam de estudar, mas, talvez da publicação.) do Tarot entre os renomados
ocultistas até o século 18 e, principalmente, o porquê de tanto escárnio nas
obras de Lévi e Papus sobre as cartomantes ou, no caso de Etteila (Tudo
indica era afeminado), um homem que se atreveu a jogar cartas como elas, denegrindo a imagem do
"macho esotérico que conjura demônios"... Coisas do século passado...
Hoje, homens e mulheres jogam o Tarot; mas você deve ter percebido que ainda
temos uma resistência em aceitar os jogos adivinhatórios e tentamos sempre
lucubrá-lo com a mais alta metafísica - talvez seja o ranço herdado das obras
de Levi, Papus, Mac Gregor e seus
dissidentes. (Talvez
seja)
Vamos falar a verdade? Não conheço um só estudante de Tarot, em qualquer
lugar do mundo, que se diga "cabalista
da tradição em busca do sagrado", ou que diga "o Tarot é uma arte
do autoconhecimento" (Todos
concordam, as vezes, implicitamente), que não esteja diariamente se profanando, jogando o Tarot, querendo
saber dos acontecimentos e das causas! Vamos ser honestos? (Por isso é que digo: Cada um é um. Nem todos são curiosos.) No fundo todos querem aprender a
abrir o Tarot como qualquer cartomante antiga! (Generalizar jamais) Pode falar que é orientação,
autoconhecimento, espiritualidade, tradição, não importa, no fundo terminamos
onde Etteila começou; aliás, aperfeiçoamos primorosamente as suas cartilhas e
de todas as cartomantes! Assim como os ocultistas do século 19, também estamos
nos escondendo atrás dos estudos da cabala, mitologia, astrologia, psicologia,
para encontrarmos a dignidade e o direito de jogarmos cartas! Estaremos nos
enganando, complicando uma arte que poderia ser simples?
Embora o Tarot fosse conhecido e utilizado há séculos na Itália,
Alemanha, Suíça, Espanha e França, foi precisamente em Paris que ele criou sua
própria luz espiritual, tanto no surgimento de seu nome (tarot), quanto em sua
centrifugação com o ocultismo; observe que todos os autores que descrevemos são
franceses e publicaram suas obras na Cidade Luz. Bem, no início do século 20,
principalmente, depois da 1º Guerra Mundial, tudo mudou para a imagem feminina:
elas conquistaram o direito de trabalhar, de votar, de viver sozinha, escolher
sua família e, finalmente, começaram a desenhar o Tarot... ôps, esqueci de
dizer, somente homens podiam ser artesãos de Tarot até o início do século 20. A
primeira mulher a pintar um Tarot foi Pamela
Smith que desenhou o Rider-Waite Tarot, publicado em 1910... Hoje elas
tomam seu lugar glorioso no pódio das sibilas e pitonisas parisienses,
italianas, americanas, espanholas, brasileiras... Avante mulheres tomem as
rédeas do Tarot: ele pertence a vocês - agora posso usar a palavra - por
tradição!
Quem sabe, talvez, se tivéssemos a humildade e a dignidade de admitir
que o Tarot opera perfeitamente no mundo oracular e divino, mas não existe todo
esse passado magnífico,
mágico e tradicional que nos imputam ou em que queremos acreditar (Bom, aqui, é uma questão de opinião. Eu
não tenho a menor dúvida da antiguidade dos Arcanos, inclusive pela própria
“hierarquia” dos Arcanos do Taro , principalmente no que tange o Taro egipcio); ou ainda melhor, aceitar uma
verdade tão clara e evidente: ele é um oráculo recente, jovem, aberto à
exploração (Não
dá para concordar com isso), ávido por uma estruturação, que nasceu há poucos séculos e depende de
nós preservá-lo, estudá-lo, tomando o devido cuidado em não deformar seus
símbolos por puro egocentrismo e perder essa arte maravilhosa, esse alfabeto
mágico, que casualmente foi descoberto! Também por quem foi descoberto não
saberemos, como não saberemos nada além do que existe de real e concreto a
respeito dele; se os verdadeiros homens eruditos que se debruçavam na
maravilhosa arte alquímica e hermética ou de toda espécie de filosofia oculta
não sabiam, ou não procuraram saber e investigar as cartas do Tarot, nós que
perdemos o elo simbólico e a visão filosófico-espiritual do mundo iremos
descobrir? Nós que nos baseamos em todo o manancial de cultura simbólica desses
eruditos medievais e renascentistas, que não revelaram nada, iremos desvendar?
A resposta é um sonoro NÃO; o restante será apenas conjecturas insólitas e
inverossímeis. O Tarot é como uma criança que precisa ser alimentada e educada,
senão poderá se perder durante sua vida com tantos Tarots corrigidos que surgem
e tantas informações desencontradas.
Em todo caso é compreensível o fato dos antigos ocultistas não aceitarem
o Tarot no âmbito esotérico, não pelo seu aspecto de pertencer às mulheres, mas
pela falta de conhecimento do conceito de "arquétipo" - padrão de
comportamento que é intrínseco na vida humana, desenvolvido na metade do século
20! Hoje observamos o símbolo e não propriamente a imagem desenhada, tentamos
nos transportar além de sua figura para atingir um sentido de significações.
Assim, o Tarot se tornou um conjunto de modelo comportamental humano, adapta-se
a qualquer sistema que se queira trabalhar ou estudar. Talvez algum iluminado,
um sábio ocultista, realmente o tenha criado, pois sua estrutura não deixa
dúvidas de que há elementos bem significativos de toda ciência oculta, porém acredito
que não tenha sido inventado para a finalidade que utilizamos atualmente...
Coisas do destino... Também observe que
se aceitarmos a associação do Tarot-cabala que Levi desenvolveu, o sistema
desenvolvido por Mac Gregor ou Waite estarão errados; se aceitarmos o sistema
cabalístico de Crowley, o de Mac Gregor, Waite e Levi estarão errados; se
aceitarmos o de Mac Gregor e Waite, o de Levi e Crowley, também, estarão
errados - o mesmo ocorre com os trabalhos de Juliet S.Burk (mitologia grega),
Clive Barret (mitologia nórdica), Falconnier (mitologia egípica), Anna Franklin
(mitologia céltica), que se negam um ao outro em analogias! -. Quem está
com a razão? Todos! Qualquer sistema se adapta ao Tarot porque ele é um
conjunto arquetípico! Isto é que faz o Tarot tão rico em sua expressão e,
talvez, confuso à primeira vista.
Tenho lutado para que todos desenvolvam uma elaboração estrutural do
Tarot, sem ego pessoal ou assimilação de outras doutrinas, que escrevam ou
conceituam mais do que apenas desenhar "seu próprio Tarot", porque
fica evidente sua deformação simbólica à medida que todos querem ter a
"revelação mágica dos símbolos"; mas para tal, não podemos nos negar
nada, nem que seja o absurdo de começarmos do nada, de inutilizarmos tudo, fazermos
uma deliciosa fogueira exorcizando todo devaneio romântico do que foi aprendido
sobre os arcanos e recomeçarmos fortes, verdadeiros, rumo a análises confiáveis
e livres de dogmas pessoais. Se não partirmos da premissa básica que é o
reconhecimento de seu verdadeiro passado, seja ele bom ou mau, mundano ou
divino, falso ou real, (iniciático), lazer ou oracular, não será possível
termos certeza do que temos nas mãos, nem a convicção do que poderemos fazer
com o Tarot. Sei que formulei mais questionamentos, deixei muito mais perguntas
do que evidenciei respostas. Também vamos ser práticos, as respostas do passado
não existem, somente as do futuro: como vamos estruturar e conceituar
definitivamente seus arcanos e, assim, garantir a continuidade do Tarot para
futuras gerações?
Fim
Só
lamento não ter citado Oswald Wirth,
o ocultista que restituiu o Pentagrama de Trithemius, que
encerra dentre outras, o segredo do Grande Arcano. Claro, do ponto de vista
iniciático.
Pentagrama de
Trithemius
Reconstituído por
Oswald Wirth.
“Quem quer provar
muito, nada prova, diz um axioma lógico”
Eliphas Levi
Excelente
ResponderExcluirGlaucia, EXCELENTE foi teu conceito tão generoso. Obrigada, minha linda.
ResponderExcluirmuito obrigado
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